A Internet é também uma montra do engenho humano, da pesquisa, do empenho e da união de governos e instituições científicas. Só se tornou possível graças à interligação de capital e ideias, de investidores e cientistas. Talvez o mais importante tenham sido as pessoas, cada vez mais o jargão técnico da Internet faz parte do vocabulário pessoal de cada um – email, ebook, browser, são palavras que já descodificamos automaticamente, parece que sempre fizeram parte do nosso vocabulário. Será assim, cada vez mais assim.
Esta História da Internet propõe-se destrinçar quatro aspectos fundamentais: a evolução tecnológica, que começou com as primeiras pesquisas sobre packet-switching e ARPANET(e tecnologias relacionadas), onde a pesquisa actual continua a produzir grandes avanços a nível de escala, desempenho e outros parâmetros. Existe o aspecto operatório, e de gestão, de uma infra-estrutura global e complexa. Focaremos também o aspecto social, em que existe uma larga comunidade de internautas que trabalham em conjunto fazendo evoluir a tecnologia. Por último analisaremos o aspecto comercial, que compreende uma eficaz transição de resultados de pesquisas para uma infra-estrutura vastamente implantada.
A Internet de hoje é uma estrutura de informação expandida e em expansão, o protótipo inicial é vulgarmente referenciado como o “National (ou Global ou Galactic) Information Infrastructure”. A sua história é bastante complexa e compreende muitos aspectos – tecnológicos, organizacionais e sociais. A sua influência não chega apenas aos campos técnicos das comunicações por computador, estende-se através da sociedade à medida que nos aproximamos de novas ferramentas online para o comércio electrónico, aquisição de informação e interacção com outros seres humanos.
As origens da Internet
A primeira descrição de interacção social que poderia ser iniciada através de uma rede computacional foram uma série de memorandos escritos por J.C.R. Licklider, do MIT, em Agosto de 1962, em que discutia o seu conceito de “Galactic Network”.
Licklider tinha a visão de um conjunto de computadores interligados globalmente através dos quais todos poderíamos aceder a dados e programas que estivessem guardados num qualquer sitio.
Leonard Kleinrock, do MIT, publicou o primeiro ensaio técnico na teoria do packet switching em Julho de 1961 e o primeiro livro sobre o assunto em 1964. Kleinrock convenceu Roberts da possibilidade teorética das comunicações usarem pacotes em vez de circuitos, o que foi um passo de gigante para se chegar às redes computacionais. Outros avanços importantes foram fazer com que os computadores falassem um com o outro. Em 1965, com o intuito de alcançar isto, em conjunto com Thomas Merrill, Roberts conectou o computador TX-2, em Mass, ao Q-32, na Califórnia, através de um telefone analógico criando a primeira Wide Area Network. O resultado desta experiência foi a percepção de que os computadores time-share poderiam trabalhar bem em conjunto, correndo programas e recolhendo os dados necessários da máquina remota, mas que o circuito telefónico utilizado era totalmente inadequado para a função. A convicção de Kleinrock da necessidade do packet switching foi confirmada.
No final de 1966 Roberts ingressou no DARPA para desenvolver o conceito de rede computacional e rapidamente engendrou o seu plano, para o que viria a ser a ARPANET, publicando-o em 1967. Na conferência em que apresentou o seu estudo existia também um estudo sobre rede de pacotes similar, dos cientistas Donald Davies e Roger Scantlebury do NPL, Inglaterra. Scantlebury explicou a Roberts o trabalho da NPL e também os trabalhos de Paul Baran e de outros na Corporação RAND. A corporação RAND havia escrito um estudo sobre redes packet switching para comunicações de voz entre militares em 1964. Acontece que os trabalhos no MIT (1961-1967), na RAND (1962-1965) e na NPL (1964-1967) avançaram em paralelo sem que nenhum dos cientistas tivesse conhecimento do trabalho de outro. A palavra pacote foi adoptada do trabalho desenvolvido pela NPL e a velocidade proposta de transferência de dados a ser usada na ARPANET passou de 2,4 kbps para 50 kbps.
Em Agosto de 1968, depois de Roberts e a comunidade DARPA terem refinado toda a estrutura e especificações para a ARPANET, um RFQ foi lançado pelo DARPA para o desenvolvimento de um dos componentes essenciais, os comutadores de pacotes, chamados Interface Message Processors (IMP). O RFQ foi ganho em Dezembro de 1968 por um grupo liderado por Frank Heart da Bolt Baranek and Newman (BBN). À medida que a equipa da BBN trabalhava no IMP, em que Bob Kahn teve um papel fundamental, a topologia de rede foi sendo desenhada e optimizada por Roberts e Howard Frank juntamente com a sua equipa na Network Analysis Corporation. O sistema de medição da rede foi preparado pela equipa de Kleinrock na UCLA.
Devido ao desenvolvimento precoce da teoria de packet switching por Kleinrock e consequente análise, design e medições, o seu Network Measurement Center na UCLA foi escolhido para ser o primeiro nó na rede ARPANET. Tudo isto contribuiu para que em Setembro de 1969, quando a BBN instalou o IMP na UCLA, o primeiro computador “anfitrião” fosse interligado. O projecto de Douglas Englebart (ver Englebart neste blog) – “Augmentation of Human Intellect” (que incluía o NLS, um sistema de hipertexto rudimentar) – no Stanford Research Institute (SRI) providenciou o segundo nó. O SRI suportava o Network Information Center, liderado por Elizabeth (Jake) Feinler e incluía funções como manter as tabelas que relacionavam os nomes dos computadores “anfitriões” com o mapa de endereços, bem como uma directoria com RFC. Um mês mais tarde, quando a SRI estava ligada à ARPANET, a primeira mensagem de computador para computador foi enviada do laboratório de Kleinrock para o SRI. Mais dois “nós” foram acrescentados na UC de Santa Barbara e na Universidade do Utah. Estes dois “nós” incorporavam projectos de aplicações para visualização nas quais Glen Culler e Burton Fried trabalhavam na altura. Também Robert Taylor e Ivan Sutherland do Utah, investigavam métodos para representações 3D através da rede. No final de 1969, quatro “anfitriões” estavam conectados na ARPANET inicial. Mesmo nesta fase embrionária deve ser notado que a pesquisa sobre redes incorporava igualmente trabalho sobre como fazer a rede e sobre como utilizar a rede. Esta tradição, bastante peculiar, continua hoje em dia.
Foram adicionados computadores à ARPANET nos anos seguintes, o trabalho prosseguiu procurando-se então encontrar um protocolo de comunicação entre os computadores e outro software de rede. Em Dezembro de 1970 o Network Working Group (NWG) trabalhando sobre as ordens de S. Crocker finalizou o protocolo inicial da ARPANET para comunicação entre os computadores, o Network Control Protocol (NCP). À medida que os sítios da ARPANET implementavam o protocolo, durante o período de 1971-1972, os utilizadores da rede podiam finalmente começar a desenvolver aplicações para ela.
Em Outubro de 1972, Kahn organizou uma demonstração muito bem sucedida da ARPANET no International Computer Communication Conference (ICCC). Foi a primeira demonstração pública desta nova tecnologia de comunicação em rede. Foi também em 1972 que a aplicação posteriormente mais popular do mundo foi introduzida – o correio electrónico (email). Em Março desse ano, Ray Tomlinson, da BBN, escrevera o software básico para enviar e receber mensagens motivado pela necessidade que a ARPANET tinha de coordenar os seus esforços internos entre os vários técnicos e cientistas. Em Julho Larry Roberts expandiu a utilidade da aplicação dotando-a da capacidade de listar, seleccionar, arquivar, reencaminhar e responder. Daqui em diante o email cresceu até se tornar, durante mais de uma década, a aplicação mais utilizada na rede.
Traduzido, aumentado e adaptado de “A Brief History of the Internet” escrita por Barry M. Leiner, Vinton G. Cerf, David D. Clark, Robert E. Kahn, Leonard Kleinrock, Daniel C. Lynch, Jon Postel, Larry G. Roberts e Stephen Wolff.